Inflação desacelera em novembro, mas preço das carnes salta 8%

Acougue no Rio

IPCA ficou em 0,39%, com recuo na conta de luz. Alimentação e transporte impedem freio maior do indicador. Mesmo com índice menor, expectativa é de alta forte da Selic nesta semana

A inflação do país desacelerou para 0,39% na passagem de outubro para novembro, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgados pelo IBGE nesta terça-feira. O resultado foi influenciado por um recuo na conta de luz, que puxou o índice para baixo, mas a alta nos alimentos, com aumento intenso no preço das carnes, impediu maior desaceleração.

  • Com o resultado, o IPCA acumulado em 12 meses atingiu 4,87% e segue acima do teto da meta
  • A meta é de 3% neste ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos
  • No acumulado do ano, a inflação é de 4,29%

Apesar da desaceleração do IPCA, a expectativa é de alta dos juros nesta semana. Nesta terça e quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, se reúne pela última vez em 2024 para decidir em que patamar ficará a Taxa Selic. Algumas projeções indicam aumento de até 1 ponto percentual, o que elevaria a taxa para 12,25%.

A desaceleração do IPCA de novembro reflete a queda no grupo Habitação (-1,53%), impactado pelo preço da energia elétrica residencial, que caiu 6,27% no mês com a vigência da bandeira tarifária amarela.

Desde setembro, as contas de luz estavam com bandeira vermelha patamar 2, o que puxava os preços para cima até o final de outubro. Em dezembro, a previsão é que a bandeira tarifária volte para o verde, sem cobrança extra.

Feriadão do G20

Por outro lado, o grupo de Alimentação e bebidas (1,55%) pressionou a inflação, com terceiro aumento consecutivo da alimentação no domicílio, que chegou ao maior patamar do ano (1,81%). O preço das carnes, que já havia subido de forma intensa em outubro, aumentou ainda mais, chegando a 8,02% de avanço, maior desde dezembro de 2019 (18,06%).

— Nas carnes, a gente observa uma menor disponibilidade de mercado interno de animais para abate e também o aumento das exportações — explica Denise Cordovil, pesquisadora do IBGE.

Os transportes também registraram alta em novembro (0,89%), com os preços da passagem aérea subindo 22,65%.

— A proximidade do final de ano e os diversos feriados do mês podem ter contribuído para essa alta — explicou André Almeida, gerente da pesquisa, mencionando também o feriado prolongado durante os eventos do G20 no Rio de Janeiro.

O que dizem os analistas?

Para Matheus Dias, economista do FGV Ibre, a alta nos alimentos já era esperada, mas o número acabou vindo ainda mais intenso, o que fez com que o índice ficasse um pouco acima das expectativas.

— A gente também observa alta em itens mais relacionados à períodos sazonais, com a chegada no verão. Então, tem pacotes turísticos e hospedagens já mostrando que vão ter uma pressão nesses meses de novembro, dezembro, períodos de maior demanda — explica.

Mesmo com a bandeira tarifária verde em dezembro, Dias não acredita que a inflação irá ceder. Ele explica que o impacto da energia elétrica residêncial será menor, uma vez que a diferença da bandeira vermelha patamar 2 para a amarela é maior do que da amarela para a verde.

— E tem outros fatores sazonais envolvidos, a gente observa a passagem aérea, a própria alimentação, que apesar de já estar em patamar elevado, deve se manter nesse nível. Então, isso vai gerar uma pressão para o IPCA no mês de dezembro — considera o economista.

Para ele, a maior preocupação é em relação ao câmbio se manter em patamar elevado, uma vez que isso influência nos preços dos produtos que são consumidos no país. Dias também menciona o dólar, que já estava em alta desde o primeiro trimestre, e agora passa de R$ 6,00.

— A tendência é que o dólar continue nesse patamar mais elevado, fazendo com que haja ainda maior pressão sobre a inflação, que já começa em dezembro, mas fica para 2025 também. Então, todo o cenário macroeconômico faz com que a Taxa Selic tenha que subir. A gente ainda continua com a inflação elevada, mesmo que em novembro tenha sido um pouco menor. A bandeira tarifária fez com que puxasse um pouco para baixo, mas a gente ainda tem taxa de desemprego em níveis historicamente baixos. Isso faz com que você acabe tendo uma pressão via consumo — conclui.

Também é o que pensa Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, que além de mencionar o câmbio depreciado como fator de atenção, destaca ainda o risco fiscal e a piora nas expectativas de inflação para os próximos anos, divulgadas pelo Focus, relatório de mercado organizado pelo BC.

— O que a gente nota em novembro é uma dinâmica qualitativa ruim. Quando colocamos uma lupa sobre alguns grupos específicos que são mais observados pelo Banco Central, eles tiveram uma aceleração em relação ao mês de outubro. E aí, se você juntar todos esses fatores, não tem como o BC não subir os juros nas próximas reuniões — avalia.

Portanto, Sung projeta alta de 0,75% na Selic nesta reunião do Copom, mas considera que a probabilidade de um ponto percentual cresceu diante dos resultados do IPCA de novembro.

— Por enquanto, a gente está com a previsão de fechar o ciclo de altas em 13,50%, esse é o nosso cenário básico. Se a situação continuar se deteriorando, em cenário pessimista, aí eu sinto que chega em 14,25%. E para o IPCA de dezembro, estamos vendo um pouco de alta sim — conclui, acrescentando a estimativa de que o índice termine o ano entre 4,9% e 4,95%, acima da meta.

Por outro lado, Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, projeta uma inflação fechando levemente menor ao final do ano, mas ainda acima do teto da meta, com a expectativa de 4,7%.

“Os dados divulgados hoje reforçam nossa visão de que o Copom (Comitê de Política Monetária) deve acelerar o ritmo de alta dos juros para controlar a inflação. Esperamos um aumento na Selic de 0,75 ponto percentual na reunião de amanhã, levando a taxa para 12%, mas não descartamos uma elevação mais acentuada, dadas as expectativas para o IPCA”, disse ele, em comentário.

INPC de 4,84% em 12 meses

O IBGE também divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que teve alta de 0,33% em novembro, abaixo do resultado observado em outubro (0,61%). No ano, o INPC acumula alta de 4,27% e, nos últimos 12 meses, de 4,84%.

Esse índice reúne a cesta de compras de famílias com rendimentos de um a cinco salários mínimos e é usado como base para o reajuste de salário mínimo do ano seguinte.Mais recentePróximaCalendário Bolsa Família 2024: veja pagamentos em dezembro

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