Tricampeão da Fórmula 1 em 1988, 1990 e 1991, Ayrton Senna segue vivo nas memórias dos fãs. O que poucos sabem, no entanto, é que o caminho do piloto poderia ter tomado uma direção diferente. Quem conta essa história é outra lenda das pistas.
Às vésperas do GP Brasil neste domingo (3), Emerson Fittipaldi, primeiro brasileiro a chegar ao topo da F1, revelou os bastidores de quando uma simples aventura poderia ter levado o eterno amigo à Fórmula Indy.
Durante o lançamento da fan zone da McLaren, em São Paulo, em parceria com a OKX Race Club, e que homenageia os 30 anos de legado de Senna, Fittipaldi contou detalhes da rara experiência no circuito de Firebird, nos Estados Unidos, em dezembro de 1992.
Na ocasião, o tricampeão do mundo havia desabafado sobre a preocupação de ter um carro competitivo em mãos na temporada seguinte. Com a renovação com a McLaren emperrada e outros concorrentes em ascensão, surgiu o convite do amigo brasileiro.
“Quando o convidei para guiar na Indy, ele topou e foi para Phoenix. Testei o carro em uma pista muito pequena, e não tinham deixado ele correr no oval, porque todo mundo que chega da Fórmula 1 acha que é muito fácil e tem o risco de se machucar. O Ayrton andou, adorou o carro e ficou assistindo ao meu teste”, conta Fittipaldi, antes de lembrar o susto que tomou em seguida.
“Eu fiz um teste muito rápido, de 1.600 metros, e na saída da curva – a gente passa a centímetros do muro de concreto – eu vi uma cabecinha, um vulto. Eu passava com a roda traseira a um metro dessa cabeça, a uns 280km/h. Na hora, falei: quem é esse maluco? Quando eu fui para o box, o Ayrton acenou e vi que era ele”, completou.
Questionado por Fittipaldi sobre o que fazia ali, tão próximo da pista, Ayrton respondeu que “queria sentir a vibração do ar do carro perto do muro”.
“Eu falei para ele que nunca faria o que ele fez. É a confiança em mim, mas se eu tivesse no lugar dele, não ficaria ali”, brincou Fittipaldi, que foi campeão da Fórmula 1 em 1972 e 1974, o primeiro da McLaren na categoria.
Senna jamais escondeu a admiração pelo bicampeão brasileiro e que, em suas próprias palavras, foi o “responsável pelo sonho de ser piloto”.
No livro ‘Ayrton Senna – O Herói Revelado‘, o escritor e jornalista Ernesto Rodrigues conta que, para o teste na Penske-Chevy 92, de Fittipaldi, os mecânicos da equipe ainda precisaram improvisar almofadas para evitar que Senna se debatesse dentro do cockpit, por ser muito maior.
Apesar de se dar bem no teste, Senna jamais cogitou se transferir para outras categorias do automobilismo, e voltaria a correr pela McLaren na temporada seguinte, terminando como vice-campeão, atrás de Alain Prost.
Fórmula 1: como surgiu o ‘S do Senna’ no autódromo de Interlagos

Das várias curvas que formam todos os 24 autódromos presentes na temporada da Fórmula 1, o “S do Senna” é uma das mais famosas. O icônico trecho, feito em homenagem ao tricampeão mundial, foi inaugurado em Interlagos há mais de 30 anos, no dia 1º de fevereiro de 1990.
Na época, a então prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, anunciou uma grande reforma no Autódromo José Carlos Pace, com o objetivo de recolocar a Fórmula 1 em São Paulo, após alguns anos com o GP do Brasil sendo disputado no Rio de Janeiro. A ideia inicial era criar uma variante no fim da reta principal, com duas novas curvas, para ligar o traçado à Curva do Laranja.
Só que Bernie Ecclestone, então administrador da categoria, gostaria de acabar com as curvas 1 e 2, alegando falta de segurança. Foi então que Ayrton Senna sugeriu a criação de um “S”, com uma descida ligando a antiga curva 1 à Curva do Sol. A ideia foi muito bem aceita pela organização da F-1.
Apesar de ter idealizado o trecho, o próprio Senna não gostou do resultado: “Não é nada disso. Eu queria um trecho de alta velocidade em que você viesse no final da reta dos boxes, em sexta marcha, fizesse o trecho em quarta marcha, alguma coisa parecida com o que tem no México, usando o declive. Não era chegar aqui e parar”, disse ele em declaração reproduzida pelo livro “Ayrton, o herói revelado”, escrito por Ernesto Rodrigues.
Mas mesmo com a reclamação, a obra já estava feita. O novo circuito de Interlagos passaria a ter 4,3 km e atenderia às exigências de segurança da FIA.
Depois disso, Ayrton criou outro impasse, já que não queria que o trecho fosse batizada de “S” do Senna. O campeão de 1988 sugeriu que o novo trecho recebesse outro nome: “Seria muito mais justo batizá-lo de ‘S’ ou Curva do Chico Landi (morto em 1989), que abriu as fronteiras do automobilismo mundial para o Brasil e sempre teve muito amor por Interlagos, fazendo o possível para trazer a Fórmula 1 de volta para cá quando foi o administrador do autódromo.”
No fim das contas, ele aceitou e acabou batizando o trecho e ainda ajudou os engenheiros responsáveis pela obra, sugerindo ajustes nas zebras e também em muros.
A corrida de reinauguração do autódromo aconteceu no dia 25 de março de 1990. Senna participou, com a sua McLaren, e chegou a fazer a pole position, mas não conseguiu vencer, terminando na terceira colocação. Seu eterno rival, Alain Prost, ficou com a vitória.



